Nísia Floresta – Obras

Texto de Bruna R. Mello, Thamires V. A. Vieira e Rafael Velho

As obras escritas por Nísia Floresta renderam a ela prestígio tanto no Brasil quanto na Europa, sendo reconhecida como uma das grandes escritoras brasileiras do século XIX. Ela escreveu 15 livros, os quais continham artigos, poemas, romances, narrativas de viagem e novelas didático-moralistas. “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” foi o título dado por Nísia ao seu primeiro livro publicado em 1832, que, segundo afirmava a escritora, era uma tradução livre do livro “Vindication of the rights of women” de Mary Wollstonecraft. Este livro provocou a reflexão sobre a concepção da figura social das mulheres, defendendo a participação feminina em postos de comando em um período onde a valorização da capacidade intelectual feminina praticamente inexistia. Ao longo do texto, Nísia denuncia o absurdo que era considerar o estudo das ciências inútil às mulheres:

“(…) não pode ser, portanto, senão uma inveja baixa e indigna, que os induz a privar-nos das vantagens a que temos de um direito tão natural, como eles.” (FLORESTA, 1989a, p.49)

Em sua obra, ela critica filósofos e teólogos, que tendo a oportunidade de refletir e expor posicionamentos, demoravam uma vida toda para desenvolver um raciocínio que, muitas vezes, só existiam em seus próprios cérebros. Cita exemplos de figuras femininas históricas que tiveram atitudes dignas em defesa das mulheres. Ela defende a participação efetiva das mulheres em cargos públicos e postos de comando. Porém, Nísia modifica um pouco seu discurso no livro “Opúsculo Humanitário”, publicado em 1853. Nesta obra, ela defende que a educação feminina deveria ser fator de elevação moral, importante para a instrução das mães de família e da sociedade.

Durante o ano de 1847, Nísia já dona do Colégio Augusto e professora, publicou três obras de caráter pedagógico dedicados à temática feminina: “Fany ou o Modelo das Donzelas” e “Daciz ou a Jovem Completa” sendo novelas didático-moralistas, e “Discurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta” um pronunciamento que Nísia realizou para o encerramento do ano letivo. Mas é no livro “Opúsculo Humanitário” que se pode encontrar o pensamento de Nísia sobre a educação feminina, e sobre o ensino de maneira geral. Ela utilizou dados oficiais publicados para criticar o sistema de ensino, apontando a falta de um direcionamento educacional e a baixa quantidade de escolas para meninas:

“Acrescentemos agora ao medíocre número dessas escolas a confusão dos métodos, das doutrinas seguidas pelas professoras, quase sempre discordes em seus sistemas e, como já observamos, em grande parte sem as necessárias habilitações, e teremos, reduzido à expressão mais simples, o número da nossa população feminina que participa do ensino público e o grau de instrução que recebe.” (FLORESTA, 1989b, p.83)

Nísia Floresta tratou não só do fracasso do sistema geral de ensino, como também denunciava o despreparo de estrangeiros que comandavam escolas da Corte e a educação para meninas que as preparavam somente para atuarem nos salões, com aulas de canto, dança, música, estudo do francês e da literatura. Criticou a importância dada pelos pais a essa educação que priorizava a futilidade, uma boa educação de aparências, com sucessos passageiros. Em sua proposta curricular do Colégio Augusto, Nísia ensinava latim, matéria considerada inadequada para a educação feminina da época. Tratou de assuntos polêmicos, como a escravidão, e outros temas que saíram na imprensa carioca e que foram compilados no livro “Opúsculo Humanitário”.

             Algumas outras obras:

  • “Conselhos à minha filha” de 1842: esta obra foi escrita para sua filha Lívia Augusta no seu aniversário de 12 anos, e sua versão em italiano se tornou leitura recomendada em varias escolas na Itália.

“Minha querida filha, há no mundo duas sortes de admiradores de nosso sexo, uma assaz comum, outra extremamente rara. A primeira é daqueles homens que, olhando-nos com desprezo, não vêem em nós, assim como nessas lindas flores que se colhem para servir-nos de um ornato passageiro, mais do que um objeto digno somente de lisonjear seus sentidos. A seus olhos, uma mulher amável é sempre aquela que reúne mais graças exteriores e, ousados pela fraqueza com que os prejuízos de nossa educação nos apresentam aos olhos do mundo, eles têm estudado e põem em prática uma linguagem toda engenhosa para atrair nossa atenção e triunfar dessa fraqueza a despeito de nossa virtude mesma.” (F. Augusta Brasileira)

  • A Lágrima de um Caeté” de 1849: Poema de 712 versos escritos logo após a Revolta Praieira, ocorrida em Pernambuco. A autora lança uma espécie de paralelo entre a opressão do Império aos nacionalistas e o sofrimento vivido pelo índio após a colonização portuguesa. O índio é retratado com um guerreiro, porém como um parceiro de Portugal.
  • Páginas de uma vida obscura”, “Um passeio ao Aqueduto da Carioca” e “Pranto Filial”: são três artigos que foram escritos para o jornal “O Brasil Ilustrado” e publicados em livro em 1854. O primeiro artigo trata sobre a escravidão, o segundo, sobre as belezas do Rio de Janeiro e, por fim, o terceiro, sobre a morte de sua mãe. Abaixo, um trecho de “Páginas de uma Vida obscura”:

 “A escravidão, esse monstruoso parto do despotismo, esse infame libelo dos povos cristãos, foi sancionada pelos mesmos homens, que tudo haviam sabido sacrificar para libertar-se do jugo de seus opressores, e assumirem a categoria de nação livre! Eles, que acabavam de conquistar a liberdade, não coravam de rodear-se de escravos! Anomalia de um grande povo apresentada em caracteres de lágrimas e de sangue à face da civilização moderna para rebaixá-lo aos olhos da filosofia e da humanidade.” (Nísia Floresta)

  • Le Brésil (O Brasil)” de 1871: é um texto sobre sua paixão e qualidades de sua pátria.

“Todos os povos civilizados da terra precisam conhecer este amplo e rico país da América meridional, que se estende desde o majestoso Amazonas, o maior rio do mundo, até o Prata. Aí se encontram, além de uma infinidade de outros rios navegáveis, grandiosas florestas, reclinadas, a maior parte, por todo o seu perímetro em forma de admiráveis curvas; excelsos montes, cujos cumes parecem tocar o céu; pradarias risonhas de uma eterna vegetação: cheios uns e outras de quanto têm de flores e frutos o antigo e o novo mundo. A essas magnificências da natureza juntam-se os prazeres de uma civilização progressiva, espalhada em muitas de suas partes.” (Nísia Floresta)

Abaixo segue o link do vídeo onde Stella Maris Scatena Franco, professora do Departamento de História da FFLCH/USP, fala sobre seu livro “Peregrinas de outrora: viajantes latino-americanas no século XIX”. No seu doutorado, Stella Maris estudou os relatos de viagens de mulheres que visitaram os Estados Unidos e a Europa, e entre elas, a brasileira Nísia Floresta, e nesta conversa ela relata um pouco as experiências que Nísia teve durante suas viagens pela Europa .

Vídeo: História: 3 escritoras latino-americanas no séc. XIX – Stella Maris Scatena Franco.  

REFERÊNCIAS:

CAMPOI, Isabela Candeloro. O livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” de Nísia Floresta: literatura, mulheres e o Brasil do século XIXHistória,  Franca ,  v. 30, n. 2, p. 196-213,  Dec.  2011 .   Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742011000200010&lng=en&nrm=iso. Acesso em:  maio de 2016.

FLORESTA, N. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. São Paulo: Editora Cortez, 1989a.

______. Opúsculo Humanitário. São Paulo: Editora Cortez, 1989b.

Projeto Memória – Nísia Floresta. Uma Mulher à Frente de Seu Tempo. Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br/NisiaFloresta/index.html. Acesso em: maio de 2016.

 

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