Paulo Reglus Neves Freire, conhecido mundialmente como Paulo Freire, nascido em 19 de setembro 1921, em Recife (Pernambuco), no bairro da Casa Amarela, hoje chamado de Parmeneri. Seu pai – Joaquim Temístocles Freire – era Tenente da Polícia Militar e sua mãe – Edeltrudes Neves Freire – dona de casa. Em sua casa viviam, além de Paulo, seus 3 irmãos, seus pais e avó materna.
Em seu livro “Crônicas de Minha Vida” Paulo conta que aprendeu muito com seus pais, que o alfabetizaram e ensinaram, por exemplo, sobre a importância religião (sua mãe fosse católica e seu pai kardecista), trazendo diversas lembranças de quando sua mãe escrevia com gravetos de árvore frases e palavras que faziam sentido para ele por fazer parte de seu dia-a-dia, o que o ensinou a importância do ato de educar desde cedo. Contudo, também conta que teve uma infância de muitas dificuldades financeiras, e a situação piorou com a crise econômica que iniciou em 1929.
Tentando auxiliar no sustendo da família, Paulo ajudava seu pai vendendo rapaduras escondido, para que seu pai não se sentisse humilhado por precisar da ajuda de uma criança para garantir o sustento da casa. Aos 9 anos eles se mudam para Jaboatão (ainda em PE), e posteriormente, aos 13 anos, o pai de Paulo falece, deixando a família em uma situação ainda mais crítica.
Em Jaboatão passa a estudar em uma escola, seguindo o ensino que até então era realizado com sua mãe, terminando aos 16 anos o ensino fundamental. Quase não existiam escolas públicas ou bolsas, o que dificultou demasiadamente a continuidade dos estudos. Depois de longas buscas, sua mãe encontrou uma oportunidade de estudo no colégio Osvaldo Cruz, onde Paulo pode cursar o segundo ano de ginásio, quase com 17 anos.
Após três anos de estudo no colégio, Paulo procurou o diretor do colégio, Dr. Aluízio, que foi quem permitiu que ele iniciasse os estudos naquele colégio, e perguntou se poderia trabalhar para retribuir todo o aprendizado que estava podendo viver e o diretor convidou-o para ser auxiliar de chefe de disciplina e este foi seu primeiro emprego.
Aos 22 anos, em 1943, Paulo inicia sua graduação na Faculdade de Direito de Recife, enquanto atuava como professor não somente mais no colégio Osvaldo Cruz (onde tornou-se professor de língua portuguesa), mas também em outros estabelecimentos.
Em 1947 ele se forma e abre um escritório junto com alguns colegas. Em sua primeira causa Paulo precisaria confiscar os instrumentos de um dentista por atraso de aluguel. Ele realiza uma visita para verificar o local e, ao conversar com o dentista e entender que ali não havia ma fé, e sim uma necessidade de sustento, Paulo desiste da carreira de advogado e nunca mais voltaria a exercê-la.
Decidido a seguir trabalhando como educador, Paulo é convidado a trabalhar no Serviço Social da Indústria (SESI), criado no governo de Getúlio Vargas, começando como assistente e logo tornando-se diretor da Divisão de Educação e Cultura, cargo em que permaneceu entre 1947 e 1954, e passando a ser superintendente do SESI de 1954 até 1957. Seu trabalho foi a favor das camadas populares e foi onde iniciou a ter contato com o povo, em especial os pescadores, operários da indústria e agricultores da indústria açucareira – classes trabalhadoras atendidas pelo SESI – , o que possibilitou a composição de sua Teoria do Conhecimento.
Entre 1961 e 1964 foi escolhido como Membro do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco, sendo exonerado do cargo em 1964, com o golpe de Estado.
Ajudou a fundar o Colégio de Recife Instituto Capibaribe – instituição de ensino privado que existe até hoje em Recife.
Foi professor universitário, ensinando História e Filosofia da Educação.
Sua tese chamou-se “Educação e Atualidade Brasileira”, recebendo o título de doutor. Lecionou de 1960 até 1964, parando em razão do golpe de 1964, e se aposentando-se aos 42 anos de idade. Participou de um concurso que participou com sua tese de doutorado mas terminou em segundo lugar, perdendo para a tese “Educação da Criança na Grécia Antiga”, o que permite notar que a academia não dava valor para debates e estudos sobre a atualidade brasileira naquele momento.
Paulo Freire acreditava que a alfabetização das pessoas não era o suficiente para alcançar a educação, que seria necessário ter a capacidade de compreender o mundo, de conscientizar-se frente ao que acontece no mundo, de forma que as pessoas pudessem ser cidadãos e ter seus direitos. Essa capacidade de ler o mundo permitiria, aos olhos dele, fazer parte das decisões de sua comunidade, de sua cidade, de seu país.
Entendia que o ensino dos temas desde a alfabetização deveria permear diversos questionamentos, de forma que se pudesse pensar, por exemplo, a razão de ser da exploração, da pressão sentida pelo trabalhador industrial, da dificuldade de ter uma vida com dignidade.
Em 1963, na cidade de Angicos/RN, Paulo Freire pode experimentar a aplicação de sua metodologia de ensino, oportunidade em que 300 pessoas foram alfabetizadas.
Em razão de por em prática sua teoria que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, buscando capacitar os oprimidos tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua capacidade crítica, foi acusado de subverter a ordem instituída foi preso após o Golpe Militar de 1964. Deixou o país após 72 dias de reclusão, exilando-se primeiro no Chile. Durante 5 anos promoveu programas de educação de adultos no Instituto Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA), oportunidade em que escreveu a sua principal obra: Pedagogia do Oprimido.
Em 1969 trabalhou como professor na Universidade de Harvard, desenvolvendo experiências educacionais tanto em zonas rurais quanto urbanas. Durante os dez anos seguintes, foi Consultor Especial do Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional junto a vários governos do Terceiro Mundo, principalmente na África.
Após a lei de anistia (lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979) voltou ao Brasil, em 1980, depois de 16 anos de exílio. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Em 1989 foi nomeado Secretário na Secretaria de Educação de São Paulo, onde passou a dialogar com vários funcionários, professores, gestores, agentes escolares, supervisores escolares, assim como com estudantes e familiares, sobre a política educacional que pretendia implementar na cidade. Em sua gestão como secretário, que terminou em 1991, teve foco na implementação de movimentos de alfabetização, de revisão curricular e empenhou-se na recuperação salarial dos professores e na abertura de escolas públicas, populares e democráticas.
A Paulo Freire foi outorgado o título de doutor Honoris Causa por vinte e sete universidades. Por seus trabalhos na área educacional, recebeu, entre outros, os seguintes prêmios: Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento (Bélgica, 1980); Prêmio UNESCO da Educação para a Paz (1986) e Prêmio Andres Belloda Organização dos Estados Americanos, como Educador do Continentes (1992).
Ao final de sua vida, Paulo Freire tinha todo o sistema circulatória comprometido e há mais de dez anos seus rins funcionavam com dificuldades após um episódio de isquemia (ausência total de afluxo sangüíneo em um local) no cérebro. Faleceu no dia 2 de maio de 1997 em São Paulo, vítima de um infarto agudo do miocárdio.
FONTES
Paulo Freire: sua vida, sua obra (2001)
Ana Maria de Araújo Freire
http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/educacaoemrevista/article/view/663/546
A gestão de Paulo Freire à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (1989 – 1991) e suas conseqüências (2014)
Dalva de Souza Franco
http://www.scielo.br/pdf/pp/v25n3/v25n3a06.pdf
As quarenta horas de Angicos (1997)
José Willington Germano
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301997000200009
Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência (2008)
Márcio Ferrari – Nova Escola
https://novaescola.org.br/conteudo/460/mentor-educacao-consciencia
Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira
Instituto Paulo Freire
https://www.paulofreire.org/paulo-freire-patrono-da-educacao-brasileira